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Professor UNIFATEA relembra ilustração da Tarsila do Amaral para o poema “Baladilha” – homenagem para o poeta lorenense Péricles Eugênio da Silva Ramos

Por Prof. Dr. João Francisco P. N. Junqueira – Professor curso de Letras UNIFATEA

*IIustração da Tarsila do Amaral para o poema “Baladilha”, o terceiro poema da seleção.

O poeta lorenense Péricles Eugênio da Silva Ramos comemoraria hoje 100 anos. Falecido em 1992, Péricles Eugênio deixou como produção cinco livros de poesias, além de trabalhos de crítica literária e um importante legado na área da tradução, destacando-se suas traduções de sonetos e peças teatrais de William Shakespeare. Como poeta, foi considerado um dos principais membros da chamada “Geração de 45”. Entretanto, Péricles Eugênio sempre se viu como um poeta além destas denominações, produzindo uma poesia de cunho pessoal e sempre atento às minúcias estruturais do poema.

Para o desfrute do leitor, e homenagem ao centenário do poeta lorenense, segue uma pequena seleção de três poemas de Péricles Eugênio da Silva Ramos:

O mundo, o nôvo mundo

Porque tentasse decifrar os signos da matéria,

com seu rumor de concha sob a forma silenciosa;

porque sem olhos desejasse ver além do que se vê,

os pés feriu à margem do caminho,

dilacerou as mãos nas grimpas da montanha.

Um deus, porém – sim, foi um deus –,

penalizado o socorreu no meio da jornada,

oferecendo-lhe, na voz, os olhos com que visse,

as asas com que o vale do mistério transpusesse.

E canta o socorrido, e em sua voz um novo sol gravita,

como o que luz no céu, porém mais quente,

como o que apaga estrelas, mas sem corpo.

Ei-lo que canta, e um novo mar se encrespa;

ei-lo que canta, e um novo homem nasce,

um novo homem sob um novo sol.

Ei-lo que canta; e uma só língua ecoa pela Torre de Babel;

ei-lo que canta!

                         E surge o mundo, o novo mundo, sobre o túmulo da esfinge.

                                                                               (Poesia quase completa, 1972, p. 4)

O filho pródigo

Tentei forjar a rosa alheia à morte,

a ROSA, aquela, a déspota de sóis,

ou sua sombra, ao menos uma pétala:

construí-a de asas, luas e brilhantes,

para trazer na mão

alguma cinza – pobre cinza! –

e sete chagas.

Agora, que paguei o preço do resgate,

agora posso reinstalar-me na minha alma;

e posso,

agora posso –

comer o pão do sacrifício,

sentar-me à beira do caminho;

e, de regresso ao lar paterno,

soluçar de manso.

                                    (Lua de ontem, 1960, p. 5)

             III – Baladilha

A Rainha rubra deixa o castelo,

reúne a matilha, vaga nos bosques.

Guincham morcegos por sobre o cavalo;

seta e venábulo, caça a rainha.

Flechas que voam, sangue correndo,

rainha, rainha, não tens compaixão…

Caça a rainha, a rainha vermelha,

flagelo de feras, amásia de abutres.

Caça a rainha, e de tanto caçar,

achou sua raça na raça da hiena.

Caça a rainha, rameira de lobos;

caça a Rainha! E morre entre cães.

                          (Sol sem tempo, 1953, p. 36)

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