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Preservação Histórica e Folclore

A História, desde a Antiguidade, é fundamental no processo de conhecimento, pois define o passado e orienta o presente e o futuro de um povo. Para Jacques Le Goff a palavra história tem origem no grego antigo histor e significa procurar. Esta ‘procura’ refere-se à busca e descoberta de acontecimentos. O autor comenta, ainda, sobre a dualidade em torno do termo que pode significar tanto história-realidade quanto história-estudo.

O processo de disseminação de uma história se dá por meio da narração ou da escrita, podendo ela  se relacionar a fatos  reais ou imaginários. Sobre isso, Le Goff afirma  que “uma história é uma narração, verdadeira ou falsa, com base na ‘realidade histórica’ ou puramente imaginária – podendo ser uma narração histórica ou uma fábula”.

É por meio delas que as pessoas buscam entender as mudanças que acontecem em suas vidas e no mundo. São as histórias vividas pelas sociedades e o esforço em descrevê-las e interpretá-las que comprovam a importância de seu registro e arquivamento.  Em síntese, elas têm a finalidade social de identificação – do indivíduo à família ou grupo – e pertencimento  – a família ou grupo.

Enfim, a história ou as histórias dão sequência à vida, são intermináveis recolocações de memórias. Muitas vezes o interesse despertado por alguma história vai muito além da carga de conteúdo ou da veracidade dos fatos. Está ligada diretamente aos seus significados, ao que representa para o ouvinte, os quais têm ligação direta com o consciente e o subconsciente, pois carregam consigo lapsos de memórias, lembranças e sentimentos.

Portanto, história é criação de um grupo parental ou social que, por meio dela, se define e estabelece laços de pertencimento. Fazer história, consequentemente, é criar, preservar  e perpetuar cultura, porque ela propõe um processo de socialização, reconhecimento e compartilhamento da vida das comunidades. Geertz (1978, p. 24) afirma que  culturas são “sistemas entrelaçados de signos interpretáveis” e não mera eventualidade de acontecimentos e processos de um povo.

Aliado à cultura, mais do que isso, integrando-a, temos o folclore, surgido devido as pesquisas realizadas pelo arqueólogo William Johm Thom, em 1846. Thom, em função de seu interesse pelas tradições populares, organizou uma coletânea de contos, lendas, provérbios, mitos, canções, que foi transmitida oralmente. Folk significa povo e lore saber, folclore é a sabedoria do povo.

No Brasil, segundo a Carta do Folclore Brasileiro, estabelecida em 1995, durante o VIII Congresso Brasileiro de Folclore

“Folclore é o conjunto das criações culturais de uma comunidade, baseado nas suas tradições expressas individual ou coletivamente, representativo de sua identidade social. Constituem-se fatores de identificação da manifestação folclórica: aceitação coletiva, tradicionalidade, dinamicidade, funcionalidade”.

Assim, o folclore, como parte da cultura, é fonte de constituição do sujeito e está presente em sua identidade social fornecendo elementos para compreensão do mundo. Portanto, os mitos e as lendas são essenciais na formação da identidade dos indivíduos e da sociedade.

Entretanto, devido ao desenvolvimento da tecnologia e a predominância das mídias digitais, cada vez mais a tradição oral de transmissão, a história oral,  fica em segundo plano. É evidente, principalmente entre os jovens, que lhes falta esse conhecimento tradicional, sendo indispensável  retomar esse elo, porque preservar a história e memória cultural tem importância significativa para a vida individual e coletiva.

O dia 22 de agosto é o Dia do Folclore e mais do que comemorar, lembrar, deve servir de alerta a cada um de nós sobre a importância – nesse mundo em que vivemos submersos no digital, no metaverso, no TikTok, no Instagram – da nossa cultura regional, nacional porque é ela nos define e nos dá a sensação de pertencimento.

 

REFERÊNCIAS

GEERTZ, Clifford.  A interpretação das culturas.  Rio de Janeiro: Zahar, 1978

GOFF, Jacques Le. História e memória. 4. Ed. São Paulo: Editora da Unicamp, 1996

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